terça-feira, 20 de março de 2007

Novo diálogo

Saiu na Zero Hora, Segunda 19 de março de 2007.

Novo diálogo - Luis Fernando Verissimo.

Houve uma mudança no diálogo Norte-Sul. Antigamente era assim:
- Ola, guapo.
- Raí.
- Tienes um cigarrito?
-Aqui está. Este foi proibído na minha terra porque estava matando los ratos, mas para vocês do Sur no hai restrições. Só na exale na minha direção.
- Mmmm. Thanks, rubio. (cantarola, com a melodia de "guantanamera") "quanto le devo, o, o, quanto le devo..."
- Eu boto na conta.
- Cierto. Bien que podias me dar una cojer de tcha, hein, gringo? Tenho dezessete filhos.
- Mas nao tens marido.
- E com dezessete filhos, quem pode sustentar um marido. Dançamos?
- Devagar que eu não sou bom nisso. Vocês do Sul é que têm ritmo. Vocês são autênticos. Fazem artesanato. Passam fome. Têm muitos filhos. Nós, do Norte, perdemos contato com o barro da vida, entiendes? Eu, por exemplo, tenho uma mulher e 1,3 filhos. Vien a mi suíte, corazón.
- Da última vez usted disse que íamos nos casar e ser igual em tudo. Até me ofereceste uma aliança, para el progresso.
- Como sos caliente, chiuaua.
- Aiuto! Socuerro!
- Ninguém pode ajudá-la, mi periquito. Tens que fazer o que eu mando. Como vocês, pobres, são sensuais. Não resista, entre.
- Bonita a sua suíte. Olha essa mão, guapo.
- Oh yes, yes. Solamente una vez.
- Calma, deixa eu tirar a...
- Mmm. Este cheiro de frijoles, Dá-me tus maracas. Oh, yes...
- Ai! Ui!
- was it good?
- Disparas rápido, Buck. Não pude nem dizer minhas preces.

O novo diálogo é assim:

- Vien a mi suíte, corazón.
- (bocejo)
- O que quis dizer com (bocejo)? Depois de tudo que te dei, não me dás nada em troca?
- Como no? E mi matéria hermana?
- Matéria-prima.
- Era uma irmã para mim! Levaste-a por nada e me devolvesse transformada, manufaturada - irreconhecível! - Por uma fortuna. Maldicion!
- Calma, calma.
- Só quero ser tratada como uma igual.
- Ora, uma igual. Eres fecunda, maltrapilha e escancajada. Falas o inglês com sotaque e vês telenovelas chupando o dente.
- Sou assim porque, todos esses anos, fui na sua conversa. sugaste meus sonhos e minha juventude e me deixaste sola e inadimplente, como um bagaço.
- (Cantando ironicamente) "Tangerine.."
- Sabe de uma coisa, rubio? Vaya com Dios.
- "Vaya com Dios"? Já não estás mais a mi lado, corazón?
- Tenho um encontro. Dá licença?
- Posso saber com quem?
- Ele se chama Hugo, é moreno e se dá muito bem com as crianças.
- Ora, beibi.
- Quer me largar?
- O que é isso, rã? Vamos conversar.
- Não me chamou de piolhenta? Pois então me larga.
- "Piolhenta" no bom sentido. Perdeu um pouco na tradução.
- Jô, hein?
- (sedutor) Camone.
- Na-o.
- Você andou falando com o Amorim, é isso? Tudo isso tem a ver com subsídios agrícolas, acertei? Ora, sua...
- Olha que eu grito por socorro e desta vez vem gente!

Seria engraçado, se não fosse trágico? ou vice-versa?