quarta-feira, 13 de setembro de 2006

Ônibus da vida.

Após longos minutos de espera o ônibus surge. Sobem junto comigo não mais que quatro pessoas. Assim que subo já resolvo sentar no primeiro banco que vejo vago. Mas sabendo que meu destino era longo resolvo ir para a parte da frente do veículo. Pego a carteira do bolso traseiro e retiro a última das fichas. Porém ao passar...
- E a carteirinha magrão!?
- Poxa.. esqueci em casa, foi mal – respondo igualzinho como das últimas, várias, vezes que andei de ônibus durante o ano.
- Dessa vez passa, mas da próxima vai ter que pagar, entendido?
- Ta ok! Respondo sabendo que acontecerá a mesma coisa nas próximas vezes.
Sento no primeiro banco ao lado esquerdo do veículo, único assento duplo desocupado. Pois foi o tempo de eu sentar e uma mulher que estava vindo logo atrás sentar ao meu lado. Sem problema algum, se.. não fosse o fato de que logo que sentasse não olhasse para mim dizendo:
- Você é um jovem muito bonito e vejo que tem um futuro maravilhoso pela frente.
- Legal. Respondo sem dar muita importância para o que ela disse.
- Também vejo que tem algo muito importante que está para lhe acontecer em breve, você poderia me alcançar sua mão, pois assim posso lhe dizer com detalhes.
- Não estou interessado.
Porém ela prosseguiu, então pedi licença e falei que não acreditava naquelas crendices e logo me retirei. Pulei para o banco da frente, só que para o lado do corredor. Na janela estava sentado um rapaz, aparentemente da minha idade. Estava sério e parecia concentrado a ponto de nem ter visto que sentei ao seu lado, só parecia mesmo, porque logo veio perguntando:
- Qual seu nome?
Hesitei no primeiro momento, fazendo que nem era comigo, ele também nem fez questão de repetir, porém sorrindo, de leve, se aproximou de mim e disse:
- Concordo plenamente com a mulher ali de trás na parte do jovem muito bonito.
- Oh, fica no teu canto que eu fico no meu, respeita.
Ele continuando a rir diz para eu me acalmar e resolve por querer me abraçar, porém antes de piorar a situação, dele, me levanto. Olho para o cobrador e vejo ele as gargalhadas, tenho que me conter para não perder a paciência, que estava se esgotando.
Resolvo ficar de pé por um tempo, nisso na próxima parada desce a tal vidente dizendo:
- Seus próximos 15 anos serão de vacas magras, terá um ano pior que o outro, irá falhar em todos seus planos e objetivos. Entre outras coisas, o suficiente para chamar a atenção de todos no ônibus.
- Achei que ela tinha dito que era um futuro maravilhoso. Ironizo para mim mesmo.
Sabendo que não estava nem na metade do meu rumo resolvo voltar a sentar. Porém desta vez resolvo fazer uma análise, quase que minuciosa, das pessoas que estavam sentadas. Um pouco mais para o meio do ônibus noto uma senhora já de idade que parecia bem tranqüila. Peço licença e me sento. Ela só faz um sinal com a cabeça que sim e sequer olha para mim. Tudo estava muito pacífico até a hora de ela se virar para me perguntar algo e ficar pasma. É o tempo de eu lhe questionar o que estava havendo e ela começar a chorar.
- Meu neto, você é igual ao meu neto. Diz ela.
- Nãooo, não sou seu neto, a senhora está enganada.
- É simmm.. Ela começa a sorrir no meio das lágrimas pondo suas mãos em meu rosto.
- Desculpe-me, mas não sou.
- Eu sabia que você ia voltar para mim, você não podia estar morto, meu neto querido!
- Como!? Morto a senhora disse?
Nesse momento o motorista grita para ela dizendo que a sua parada era a próxima e ela responde na hora dizendo que não desceria porque teria reencontrado seu único neto. Ao parar do ônibus o motorista vem até nós e leva aquela senhora até o desembarque, após me explica que ela chama a todos de neto por não ter superado a perda do ente querido.
Ao arrancar do ônibus chegou do meu lado uma menina, que não passava dos 10 anos e me fez o seguinte pedido:
- Moço, pode segurar a bolsa da minha mãe enquanto ela está pagando as passagens? Eu tenho que atar o cadarço do meu tênis.
Nem chego a responder, confirmo pegando a bolsa da mão dela.
Quando no exato momento, a menina dá um grito chamando a atenção de sua mãe que logo ve a cena de ela no chão na minha frente abaixada, e eu com sua bolsa.
É o tempo de eu olhar para ela e levar o tapa – com a mão pesada – e gritando:
- Ladrão, ladrão!!
- Nããããoo.. foi sua filha que me pediu para eu seg..
Foi quando surge o segundo tapa. Todos no ônibus dão risada. O cobrador não se agüenta de dar risadas até que aperto no botão para descer. Nada acontece, o ônibus não para e apenas ouço o cobrador que me chama:
- Eiii rapaz, acorda! Chegamos ao fim da linha, levanta.
- Hãn, fim da linha!? Mas eu queria... bom, pensando bem, aqui está perfeito!!