segunda-feira, 30 de outubro de 2006

20 ou 90?

Alguém que considero pacas (que apesar de ser apenas alguns meses mais “experiente” que eu, porta uma invejável bagagem cultural), me disse esses dias que gostaria de ter nascido há uns 80/90 anos atrás. Pelo contexto da conversa, penso eu, que tal escolha deve-se ao fato de que, se assim fosse, vivenciaria resquícios de uma cultura muito mais moral e ética.

No entanto, essa declaração me intrigou. Comecei a (tentar) imaginar como seria se tivéssemos nascido no início do século passado. E, em meio a devaneios, decidi escrever algumas observações que julguei ser interessantes. Eis aí as tais:

Primeiramente, se nascêssemos há exatos 90 anos atrás, nasceríamos em plena 1ª GM, o que, penso eu, não ser um cenário desejável de se nascer, aliás, não é um cenário desejável em quaisquer aspectos/circunstâncias.

Passada a 1ª GM, enfrentaríamos ainda em nossa adolescência, as conseqüências da quebra de 29 que atingiu, indiferentemente, tudo e a todos. Penso também que aqueles que vivenciaram tal período não trazem consigo doces lembranças sobre.

Mas o pior ainda estava por vir, nossa juventude seria dramaticamente marcada pelos horripilantes 39-45, o que, para nós homens, poderia significar conseqüências muito mais drásticas.

Se já não bastasse, enfrentaríamos ainda aqui no Brasil um “amável” período ditatorial que nos permitiu um atraso cultural incomensurável, suprimindo o potencial de grandes talentos.

Mas, falemos agora do ponto de vista cultural/ético/moral. Nesse aspecto, penso eu, não haver dúvidas. Nossos antepassados desfrutaram de tempos melhores que os nossos (apesar de todas as circunstâncias). Infelizmente, com o advento da tecnologia, a habilidade, o âmago de toda arte, foi sutilmente suprimida. Não que isso seja algo totalmente ruim também. Graças à tecnologia, têm-se hoje inúmeros sons e ritmos que outrora não tínhamos, dos quais, em minha opinião, salvam-se alguns. Mas de uma maneira geral, não se vê mais Portinaris, van Goghis, Picassos; não se lê mais Agatha Christie, Jane Austen, Arthur Conan Doyle; não se ouve mais Villa-Lobos, Tom Jobin, João Gilberto, ou até mesmo Steve Vai, Jimi Hendrix entre outros. Há sim, uma banalização da moral e ética onde “eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também” ou onde “eu só quero 'tentar' com você, se tu não quer então me deixa em paz”, onde até apedeutas se tornam presidentes e onde a família se tornou uma instituição em extinção. Enfim, uma total ausência de princípios e valores não ensinados em Harvard, Oxford ou Massachussets, mas que, acredito eu, estão presentes na maioria daqueles que lá estão (que coisa, não?!).

No final das contas, a gente acaba percebendo que para todo lado positivo há sempre um lado negativo normalmente na mesma proporção. Só nos resta então, destinguí-los e ponderá-los cuidadosamente de maneira a aproveitar ao máximo as coisas boas e procurar minimizar os efeitos das ruins (sempre que possível). E então, todos viveremos felizes para sempre!

p.s.: “Para todo lado positivo há sempre um lado negativo normalmente na mesma proporção”. Isso me faz lembrar Balanço Patrimonial. Há! Eu sabia! Maldita contabilidade. (Com todo o respeito, é claro, aos nossos ilustres "companheiros" contadores que nos prestigiam com sua inestimável visita.)