sábado, 11 de novembro de 2006

Conceitos e conceitos

Há alguns dias atrás, conversando com um colega meu (gaúcho) enquanto escutava suas músicas tradicionalistas (gaudérias), avisei-o do meu, digamos, repúgnio à tais músicas. Penso não ter sido uma grande idéia. Foi algo como "cutucar cobra com vara curta". Então, tive que escutá-lo discursar por alguns minutos dizendo que aquilo sim é cultura, tradição, blá blá blá.. E, no ápice de sua insolência, disse-me ainda que compreendia essa minha certa incompreensão do "orgulho gaúcho", e que só os gaúchos conseguem compreender tamanha magnificência¹! Coitado dos meus ouvidos. Se já não bastasse ser, quase que diariamente, metralhado por piadinhas vis que buscam em vão elucidar a suposta "superioridade do Rio Grande", ainda tenho que escutar discursos vazios e retrógrados sobre cultura. Não! Aí já é demais!
Mas tudo isso fez com que, em meus insólitos momentos de reflexão, começasse a refletir sobre regionalismo, tradicionalismo e afins.
Antes de expor minhas conclusões/incompreensões, penso ser necessário esclarecer alguns fatos. Eu, natural de Cuiabá/MT, por ("ironia do destino" e por) motivos de força maior, que fogem ao desígnio de post explaná-las, mudei-me em março de 2005 para Santa Maria/RS, cidade na qual resido atualmente. E desde então, tenho tentado me adaptar aos usos e costumes locais, algo praticamente impossível para mim.
(Voltando ao assunto...)
Penso, sim, ser saudável (e também inútil) cultivarmos um pouco de "amor à terra natal", apesar de, definitivamente, não ser fã de tradicionalismos/regionalismos sejam eles quais forem. Mas, nada contra quem os pratica, pelo contrário, os louvo por conseguirem "perpetuar" costumes (a meu ver) inúteis, visto que, tantos outros (a meu ver) úteis, poderiam ser mantidos mas não os são.
No entanto, não penso que, pelo fato de meu povo manter a tradição (ou não), isso me faz melhor (ou pior) a outros. Ora, desde quando culturas são qualitativamente mensuráveis? O fato de antepassados terem lutado, derramado de seu próprio sangue, em "amor à terra", e que, até hoje os engrandecemos por isso, me torna, realmente, superior em alguma coisa? Ou, o fato de, ocasionalmente, ter nascido na mesma terra onde nasceu (também ocasionalmente) "o melhor jogador do mundo" ou a "top model mundial" me faz melhor que outros? Em minha doce ignorância penso que não..
O que faz um pessoa pensar ser melhor/superior que outra em se analisando fatores estritamente culturais/regionais e ceteris paribus? Ambos não "nascem, crescem, reproduzem-se (alguns) e morrem"?
Talvez um dia eu consiga entender...

¹ Paráfrase do autor .