O que vou postar aqui hoje é um artigo que li não muito tempo atrás em algum lugar na imensidão da blogosfera, mas, não sei por que raios, o blog em qual estava foi desativado. Percebi isso há alguns dias quando quis enviar o texto na íntegra a um colega meu, após termos conversado sobre, e não o encontrar. Por sorte, o cache do Google (I love it) ajudou-me mais uma vez e então resolvi recolocá-lo na web.
Antes, gostaria de esclarecer aos leitores que, apesar deste blog (como já foi explicado aqui) não ter em nenhum momento compromisso com a imparcialidade, mas apenas expor, dentre outras coisas mais, opiniões estritamente pessoais de seus respectivos autores, desta vez não necessariamente o é. Não que o assunto em questão seja polêmico ou algo do gênero, apenas retrata sobre a velha disputa entre classes sociais, mas que, a meu ver, é algo complexo demais para minha sapiência extremamente limitada.
Embora meio extenso, é uma leitura agradável e altamente reflexiva. Sem mais delongas, eis aí o tal:
Pregando Pregos
Imagine que você é um pequeno ou médio empresário e que, por alguma razão, você precisa de alguém que saiba pregar pregos. Ao mesmo tempo, em um bairro pobre da periferia de sua cidade, há um indivíduo que, talvez por conseqüência da falta de nutrição adequada durante a infância, nunca conseguiu concluir o ensino fundamental na rede municipal e atualmente, casado e pai de três filhos, ganha a vida fazendo pequenos serviços de carpintaria na vizinhança.
Apesar de ter aprendido o ofício de forma praticamente autodidata (começou cedo, fazendo caixas de engraxate que vendia aos meninos do bairro), esse indivíduo – vamos chamá-lo de João – tornou-se exímio na arte de manejar o martelo e sabe pregar pregos como ninguém, aliando velocidade, destreza e precisão. Além de não martelar os dedos, João sabe exatamente que tipo de prego se adapta melhor a cada espécie de madeira e conhece os segredos da angulação adequada e da intensidade das marteladas para não provocar rachaduras indesejadas.
Na sua empresa, Maria é uma das melhores funcionárias. Desde os tempos da escola foi sempre muito esforçada, inteligente e criativa. Agora, aos vinte e dois anos e com formação superior, ela desenvolve projetos vencedores que garantem à empresa um lugar de relativo destaque no ramo.
Você está conversando com um amigo e comenta sobre a necessidade que tem de empregar um bom pregador de pregos na sua empresa. O seu amigo, que por alguma razão já ouviu falar das habilidades de João, não deixa de comentar sobre o exímio pregador da periferia. A princípio, o problema parece estar resolvido: basta oferecer um emprego a João. Um salário razoável de acordo com as suas possibilidades, você pensa, seriam dois salários mínimos, mais do que o dobro da média dos rendimentos mensais de João.
Acontece que, no país onde você reside, contratar alguém por um determinado salário significa ter de pagar em impostos, digamos, 80% sobre o valor desse salário. Esses impostos servem para o Estado fornecer garantias trabalhistas e um mínimo de bem-estar para pessoas desempregadas (seguro-desemprego, por exemplo). Ora, você está disposto a pagar até dois salários mínimos – digamos, 700 unidades monetárias – para ter João em sua empresa. Mas você não está disposto a pagar 1.260 unidades monetárias para contratar alguém que só saiba pregar pregos, por melhor pregador que esse indivíduo seja.
Como resolver o problema? De repente, você tem uma idéia sensacional: por que não ensinar Maria a pregar pregos? Uma pessoa tão qualificada não terá dificuldades para aprender algo que parece ser tão simples!
João, que poderia ter conseguido um trabalho estável e uma remuneração que permitiria melhorar as condições de vida de sua família, terá que continuar fazendo pequenos serviços pela vizinhança. Maria terá de elaborar menos projetos para desempenhar a sua nova função, isto é, a sua produtividade como projetista será prejudicada. Você estará economizando o custo de contratar mais um empregado, mas a sua empresa estará perdendo competitividade perante as outras empresas do ramo, devido à perda de produtividade de uma de suas melhores funcionárias. Talvez a economia das 1.260 unidades monetárias compensem com sobras essa perda de competitividade, mas teria sido melhor – para João, para Maria e para a sua empresa - gastar as 700 unidades monetárias que você estava disposto a pagar pelo trabalho de João. Infelizmente, isso não é possível, devido ao alto imposto estabelecido pelo governo de seu país.
Moral da história: o que a princípio foi criado para garantir mais estabilidade para o trabalhador, acaba por prejudicar o próprio trabalhador, a empresa e a economia do país como um todo. Em nome da garantia de um mínimo de bem-estar para os desempregados, criam-se novos desempregados, alimenta-se a economia informal e prejudica-se o fluxo de riqueza através da sociedade. O que parece ser benéfico no curto prazo – já que milhares de desempregados estarão recebendo um seguro-desemprego – perpetuará a miséria no longo prazo, pois os filhos de João, aliás, os filhos de todos os Joãos que poderiam ter tido acesso a uma alimentação melhor, padecerão de má nutrição e terão baixo desempenho escolar.
As pessoas não são todas iguais em suas capacidades e a vida não é justa, isso é fato. Mas haveria melhores oportunidades para todos se houvesse mais capitalismo e menos assistencialismo, pois os mecanismos que aparentemente promovem a justiça social na verdade terminam por amplificar os problemas da sociedade, quando não criam problemas novos.
Postado originalmente por: Claudio Tellez
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