"Acredito, sim, em inspiração, não como uma coisa que vem de fora, que 'baixa' no escritor, mas simplesmente como o resultado de uma peculiar introspecção que permite ao escritor acessar histórias que já se encontram em embrião no seu próprio inconsciente e que costumam aparecer sob outras formas — o sonho, por exemplo. Mas só inspiração não é suficiente".
(Moacyr Scliar)
Até então eu nunca tinha ouvido nem falar sobre Moacyr Scliar -- embora isso já não é surpresa para mim que ainda não ouvi falar de muita gente, diga-se de passagem. Descobri-o, então, através de sua autobiografia "Moacyr Scliar - O Texto, ou: A Vida" meu melhor presente de natal de 2007 -- embora seja o único.
Não diria que foi o melhor livro lido por mim até hoje, ainda porque minha biblioteca muito carece para se tornar algo reasonable, mas, para todos os efeitos, certamente está entre os melhores. E como prova disso, despertou em mim um novo interesse: ler mais autobiografias.
Mesmo ainda sem ter lido bibliografias (além das da Bíblia), algo me faz pensar que prefiro autobiografias à biografias. Explico.
Um dos momentos que mais aprecio em família é quando gerações anteriores (seja esta a dos pais, avós, bisavós...) contam sobre suas experiências. Nutro um especial apreço por ouvir aquela fala mansa com voz encorpada de conhecimento contar suas histórias, seus casos, relatar sobre sua juventude, as músicas que ouviam, as roupas que usavam, os hypes (embora muito provavelmente nem sequer soubessem da existência desse termo), as perspectivas do futuro à época, seus planos, enfim, quando descrevem o mundo em que viviam, um mundo totalemente diferente do qual vivemos.
Talvez esse apreço se deve à minha persistente tentativa de interpretar o presente à luz do passado com a inútil esperança de que isso irá me ajudar a prever/enteder o futuro. Seja como for, acredito que este compartilhamento de experiência de vida é a melhor maneira de se transmitir conhecimentos e em sua melhor forma: ''in natura".
E penso que por isso então prefiro autobiografias à biografias. De repente biografias e autobiografias poderiam receber um novo conceito. A primeira, ensinamentos sobre a vida de alguém, e, a segunda, experiências que o autor acredita ser tão útil/válidos para a vida, a ponto de desejar materializá-las, compartilhá-las e "eternizá-las". Tem algo mais valioso que conhecimentos learning by doing "for free"?
Poderia ser um pouco mais grosseiro e dizer que uma biografia nada mais é que uma babação de ovo explícita, descarada e sem escrúpulos de alguém em homenagem à outrem, em sua maioria póstumas, -- enquanto que, em se tratando de autobiografias, já não se pode dizer o mesmo até por questões morfológicas -- mas não vou.
Enfim, o livro é ótimo, o autor é excelente (imortal -- com ou sem aspas --, a saber) e o assunto é "meu novo predileto".
PS.: Three! And counting...
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