sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

A trilogia Blue-Ray


Apesar da vitória, a Sony não tem motivos para descansar. Com o avanço da banda larga e computadores mais potentes, seu próximo rival será a internet. Os especialistas afirmam que a concorrência, agora, é com os downloads de vídeos direto da rede.

(Matéria na Exame sobre a vitória do Blue-Ray)


Que o Blue-Ray¹ iria vencer a batalha contra o HD-DVD não é novidade para ninguém (nem para o pessoal da Semp Toshiba, creio eu)². Mas esta era apenas a primeira batalha.

Já li por aí, não me lembro onde, que a segunda batalha que o Blue-Ray (doravante BR) irá enfrentar é contra a pirataria. Não creio. Recursos digitais e tecnológicos para deter isso não faltam. Já reparou que aproximadamente 10% da contra-capa dos álbuns atuais é reservado para selos que comprovem a integridade e a não-violação dos direitos autorais da obra?!

Não quero (res)sucitar aqui uma discussão sobre DRM. Assunto já debatido exaustivamente internet a fora. Apenas me refiro a terceira e, valendo-me da analogia, mais sangrenta batalha que o BR irá enfretar: BR vs. Donwload Legal. Na verdade, não é só o BR que enfrentará essa batalha, mas todas as mídias físicas em geral, mas tomemos o BR como exemplificação.

Engraçado que esses dias estava eu conversando com pai sobre como era a música na "época" dele e, inevitavelmente a conversa desembocou em um discussão sobre a evolução do "comportamento musical". Meu pai, um cara longe de ser considerado "digital", tudo que ele sabe fazer com computador é abrir e-mail, baixar músicas e googlear, disse sem titubear que as mídias físicas estavam com os dias contados. Eu hesitei.

Qual não foi minha surpresa, Rodrigo Prior, parceiro para discutir tendências, compartilha da mesma opinião que a dele. Ainda um pouco mais radical, disse que o BR é um projeto 'nati-morto'.

Eu contra-ataco dizendo que há mais em um CD, DVD ou BR que apenas músicas, filmes ou jogos. Há toda uma produção e desenvolvimento por trás, que, ao se baixar apenas o conteúdo, perde-se quase que por completo.

Mas essa é um discussão ainda recente, pelo menos por aqui, em terras tupiniquins, até porque não há ainda um serviço decente de vendas online. Já viu algum? Lembre-se, eu disse decente.

Nesse sentido, em terras desenvolvidas, pode-se dizer que a Apple saiu na frente. A tão badalada MacWorld '08 e seu fiasco MacBook Air, na verdade deu os primeiros passos para a consolidação de uma nova tendência, que qualquer míope é capaz de visualizar. Uma Time Capsule (aka data center) que faz o back-up (por que não: 'conecta'?) via air (aka WiFi) todos os computadores de uma casa. Dessa forma, você pode acessar seus dados/documentos de qualquer computador. A TV será apenas mais um periférico deste data center capaz de reproduzir, navegar e até mesmo comprar/alugar filmes. Lembrando que já é possível alugar filmes através da Apple TV. De alugar para vender é apenas uma questão de conceito.

Visto por este prisma, pode ser dada como certa, ao final da trilogia, a derrota do BR. Mas até lá tem muito filme ainda. Há os extremistas radicais que não abrem mão da mídia (eu! ao menos por enquanto) e os próprios fabricantes das mídias que não abandonarão o campo de batalha tão cedo.

A meu ver, os grandes generais desta batalhas são os produtores e diretores, que de um lado (da mídia) se preocuparão em desenvolver produtos que agucem o desejo de compra por parte dos consumidores (e.g. lembram do álbum da trilha sonora de "Os Simpsons - o filme"?) e do outro (do lado do donwload legal), procurarão mostrar que a praticidade e o baixo custo da mídia totalmente digital supera qualquer mania consumista.

Na verdade, o tema em questão nada mais é que uma mudança de paradigma. E das grandes! E todos bem sabem que mudanças de paradigmas, assim como grandes batalhas, não acontecem da noite para o dia. É um processo que se dá paulatinamente (eu sempre quis dizer isso).

Em uma sociedade cada vez mais digital e on line, a única certeza que podemos ter é que essa trilogia é apenas uma de muitas outras que virão. Enquanto houver capitalismo, haverá inovação, e com ela, mudanças de paradigmas. Mas isso Schumpeter já dizia lá nos idos anos 1950 -- porque afinal, este é um blog de economistas.

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¹ Não me diga que você ainda não sabe o que é Blue-Ray?! Em duas palavras, Blue-Ray é aquele que vai, agora oficialmente, substituir o DVD, mas a wikipédia explica melhor.
² Depois que se lê livros sobre Estratégia Empresarial, atitudes aparentemente absurdas se tornam simplesmente lógicas.