quinta-feira, 21 de junho de 2007

Sobre a (ir)racionalidade dos esportes e alguns pitacos

Não é mistério para ninguém que sou fã incondicional nato de Fórmula 1. Já acordei às 5h da manhã para ver um treino e fiquei acordado até às 4h para o mesmo fim (inclusive naquela época em que a Ferrari dominava tudo e todos -- maus tempos). Admiro a perfeita união homem-máquina (hoje muito mais máquina do que homem) onde tudo é "milimemente" calculado. Milímetros, miligramas e milisecundos fazem toda a diferença. Também não sou um banco de dados em forma humana tal qual o é Reginaldo Leme, mas penso que estou além do meio entre este e um ignorante.
Às vezes eu fico pensando como será que as mulheres (e/ou aqueles que não apreciam tal esporte) vêem a F1. Fico tentando imaginar o que se passa na mente destes(as) quando olham com desdém para a TV para certificar o que o ronco agudo dos motores a quase 19000 giros já lhe dava por certo: "Humm.. 22 carrinhos dando volta em círculos para ver quem chega primeiro.. pff!" Mas eu lhes asseguro, é muito mais do que isso!
Não consegue me entender? Humm.. ok, vamos falar de futebol então.
Que tal 22 homens divididos em dois times correndo atrás de uma bola com o objetivo de colocá-la, com o pé, dentro de um retângulo? E o pior, quando o consegue, os entusiastas do time que conseguiu fazem questão de provar toda sua racionalidade de nematelminto com atitudes que até sodomitas, acéfalos e bôbos da corte (bata tudo no liqüidificador até virar em uma mistura homogênea) duvidam.
E o que falar daqueles que gastam, além do seu tempo vendo os jogos (incorrendo em custos de oportunidade sem tamanho), gastam ainda seu dinheiro lotando estádios (destes -- vamos ser bonzinhos -- 90% meros proletariados em seu mais puro sentido) e contribuindo para os ricos ficarem cada vez mais ricos (para poderem comprar suas Ferraris 430s, seus Porsches Cayenes e afins) e os pobres cada vez mais pobres (não precisa de exemplos, né?!).
Mas aí você pode argumentar: "E o público da F1, não estão gastando seu tempo também? E por acaso eles entram nos GPs de graça?". Ok. Para a primeira pergunta, não precisa ser muito bom em matemática para saber que se você resolver acompanhar a maioria dos jogos (nem precisa ser todos) do seu time apenas no campeonato brasileiro, você já gastou mais tempo do que se assistisse a todos os treinos e corridas de uma temporada inteira da F1. Para a segunda pergunta, obviamente que não! Mas eu penso que o público que pode gastar de $400 a $8.895 (sim, exatamente: oito mil oitocentos e noventa e cinco!! -- preços da entrada para o GP do Brasil deste ano) para ver seu dinheirinho mini fotuna se esvaindo a velocidade dos 22 carrinhos que passam por ali a cada volta, se encontram em uma situação no mínimo mais confortável do que os que gastam $20 (uma média estupidamente grosseira) para ver seu time do coração jogar. Isso sem contar que é meio impossível algum dia você ouvir a mídia noticiar: "ferrarista é morto por mclaristas em briga de torcidas organizadas após GP".
Mas tudo bem, se você (pensa que) é feliz¹ gastando seu tempo e dinheiro com jogos de futebol.. Ok, go ahead and be happy! =) Só não me venha depois desdenhar a Fórmula 1 e seus (raros) admiradores.

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¹ Já ouviu falar no trade-off entre ignorante feliz e sábio depressivo? Não? Humm.. Ok, thank you for coming. =)

Ps.: Esse assunto dá para se estender muito mais, no entanto o post ficaria ridiculamente longo. Pode-se dizer, por exemplo, que ao gastar dinheiro com times de futebol, você está contribuindo para a desigualdade social o que já não ocorre com os gastos efetuados pelos entusiastas ricos da F1 com suas equipes também ricas. Pode-se dizer também, que gastos com F1, indiretamente, você estará contribuindo para o desenvolvimento de novas tecnologias que irão facilitar seu dia-a-dia no futuro. O que eu penso que o mesmo não pode ser dito em relação ao futebol. E há ainda o desenrrolar de tudo isso, mas que foge ao desígnio deste post explicitá-las.