sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Madrugando

Os fatos a seguir se iniciaram na última terça feira (30.10.07) e foram terminar somente lá na quarta feira (31.10.07), dia da inauguração de um hipermercado na cidade de Santa Maria, no qual prefiro não citar o nome do francesinho.

Ato 1 – A fila

18h – Este é o horário do início da fila, dito pela imprensa e pelo próprio cidadão que lá estava exatamente ao lado da porta principal sentado em sua cadeira.
23h12 – Minha chegada nela, juntamente com outros 2 amigos, preciosamente na esquina, ou melhor na dobrada da esquina, onde há um leve declívio de uns 45º graus, que horror.
0h15 – A partir de uma atitude nobre de um dos recém chegados que resolveu criar certa organização, no que se refere à entrega de números/senhas para os integrantes da fila, eu passei a ser o número 54 da fila. (Os 50 primeiros já tinha ficha a partir de outra pessoa que teve a mesma atitude.)

Ato 2 – Início da resistência

0h50 – Resolvo tirar o baralho espanhol do bolso, ou seja, não demorou 5 minutos estávamos sentados jogando truco. Não foi difícil arranjar trio adversário. E foi jogo dos bons; cantado, gritado, chambiado e ‘giriado’, do tipo: “Truco!” O adversário responde: “Que dizer que além de pequeno tu é desaforiado. Mas tu só pode ta me desaforiando, mas eu vou aceitar, quero!” E dois pontos mais pra nós!
1h~2h – Começo da apelação para os líquidos, na verdade alguns já estavam desde o início da noite, mas esse período foi mais intenso. Aí estão inclusos, o café que estava na mochila que levamos, uma garrafinha de 600ml de aguardente, cachaça mesmo, do pessoal que estava mais a frente, e não podia faltar o chimarrão bagual entre muitos ali.

Ato 3 – Fatos e boatos

2h40 – Chega até nós um andarilho da fila, isso mesmo, um rapaz que passeava pela fila, com um único intuito: (des)informar. Perguntas das mais diversas, hipóteses então, chegou a ter mais que em um jogo de loteria. Quase se criou um bookmaker para saber o que aconteceria ao abrir das portas. Mas a única certeza que se tinha é que continuaríamos ali sem saber de nada.
3h27 – Ao longe se vê uma Kombi subindo, em sua calmaria, logo após ela chega à esquina, pára e o motorista abre o vidro do lado do passageiro e entrega um jornal (logo a Kombi era de um dos jornais da cidade) onde continha um encarte com “promoções” do tal hipermercado. Não deu outra, juntou aquele conglomerado de pessoas, ao redor do tal folheto, e continuou não resolvendo nada.

Ato 4 – O abacaxi e a marmita

4h38 – Recomeça o carteado, nesse instante estamos todos já bem cansados, mas este é um detalhe que vem a apurar a aventura. E acompanhado nós jogadores, ali ficavam 2 jovens que tinham prova naquela manhã e diziam que estavam ali pela situação, vai saber quando outro hipermercado abrirá suas portas em SM, que nesta hora tinham ido para casa, mas voltaram logo em seguida com uma térmica de café, distribuindo o líquido anti-sono para todo o pessoal da fila (que neste momento já se encontrava além do estacionamento do local).

5h22 – Seguindo ainda com a carpeta, as gurias foram em casa novamente para largar a térmica e em questão de minutos retornaram com um abacaxi e uma prato feito (se assim posso denominá-lo), ambos podem ser conferidos nas fotos. Do abacaxi foi retirado o miolo e recheado com a cachaça, aquela do início do texto, foi colocado um palito de pirulito e pintado em uma folha de papel de caderno o guarda-chuvinha para colocar no canto da fruta, para completar e poder ser tomado, foi conseguido uma bomba, de um dos integrantes que não estava mais tomando seu chimarrão. Já a marmita era composta de massa, arroz e feijão, e estava quente (percebi ao tocá-la, porque não fiz questão de prová-la, estava sem fome).

Ps: percebe-se na foto da marmita, os jogadores ao fundo, e uma das garotas estudando para a prova que teria horas depois.

Ato 5 – A entrevista

6h12 – Amanhecia e o maior jornal da cidade chegava ao local, leia-se: a entrevistadora e o fotógrafo. Entre fotos e perguntados, o entrevistado da vez foi Orlando Jr., um rapaz carismático e de uma incrível habilidade com seu instrumento (não pensem bobagens), que ali no caso era um ioiô. O cara é muito bom, se eu fosse tentar fazer aquilo dava um nó nos dedos, tal era o controle dele com ioiô.

Ps: A foto dele não ficou muito boa, devido justamente a rapidez nos movimentos, e para quem quiser vê-lo no jornal, leia a matéria de ontem (01.11.07) do Diário de Santa Maria.

7h – É mais ou menos por essa hora que surge um dos comentários mais hilários da fila: Abre aspas Eu não estou aqui para comprar nada, só vou entrar aí mesmo para ser o primeiro a usar o banheiro, e coitado de quem for limpar depois, porque eu vou... Fecha aspas. Para não baixar o nível é melhor ficar subentendido o que aconteceu.

Ato Final – A glória

7h50 – A rua já está bem movimentada, algumas pessoas indo para o trabalho, outras para sua escola/faculdade/cursinho e outras em uma fila de um hipermercado (essas sim são guerreiras e merecem respeito, pois não dormiram, para uma grande causa), e foi quando as portas do local começaram a se abrir. Pode-se ver seu interior, lindo, pra não dizer que estava cheirando a novo. Abriram-se as portas externas, mas se mantiveram fechadas as internas que davam o acesso pleno ao local.
8h11 – Abre-se oficialmente o hipermercado e a confusão se instala. Primeiro que no início da fila a quantidade pessoas que chegaram e ficaram ali nos últimos minutos foram mais de 50 (o meu Brasil querido). E segunda situação é que ficaram todos apertados, no hall de entrada, pois abriram inicialmente somente para a imprensa.
8h16 – Agora sim aberto ao público, foi aquela correria, a procura das tais “ofertas”, obviamente que todos direcionados ao setor de eletros. Todo mundo perguntando, se empurrando, debruçando sobre os itens e uma só conclusão: nada, absolutamente NADA com mais de 90% de desconto, aliás, vamos diminuir o pensamento então, nem com 15%.
Resultado final: tempo na fila = 9 horas; tempo no mercado = acho que 5 minutos..

Então o que poderia dizer, divirta-se, e não crie muita expectativa!